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Milagre econômico: a Itália apresenta um crescimento acelerado na economia
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Após anos de crise na economia, Itália tem apresentado um crescimento econômico favorável, apesar das ressalvas ao governo de ultradireita. Mas as causas são efêmeras, e a bonança pode ter fim em breve.
- Por Camilla Ribeiro
- 04/04/2024 20h57 - Atualizado há 8 meses
Mario Congedo, junto com o irmão e o pai, descobre e reforma pequenos tesouros arquitetônicos no Salento, península na região da Apúlia, no extremo sudoeste da Itália, o "salto da bota". "Está indo bem, novamente", disse o arquiteto de 50 anos ao telefone.
Os apartamentos e casas que são restaurados por ele na região, ainda bastante isolada, têm atraído compradores da Alemanha e da Inglaterra.
Durante o período pandêmico de covid-19, o negócio ficou quase paralisado, mas o que está acontecendo agora no setor no país é "crazy", disse, prolongando bem o "êêêiii". Embora ele também tenha ressalvas à nova explosão econômica da Itália.
Nos anos pré-pandemia os governos nacionais apresentavam prognósticos de crescimento negativos e encabeçavam os rankings de endividamento.
Atualmente, a Itália é um dos motores econômicos da Europa. Apenas no primeiro trimestre de 2024, ela apresentou um crescimento de 0,6%, enquanto a economia da Alemanha encolhia 0,3%.
Em um período mais longo, a terceira maior economia europeia também apresenta dados satisfatórios: o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer, analisa que desde 2019 o crescimento italiano foi de 3,8%, "o dobro da economia francesa e cinco vezes mais do que a alemã".
A bolsa de valores é beneficiada igualmente do clima de euforia: em 2023, o índice FTSE MIN, constituído pelas 40 maiores empresas nacionais, apresentou um acréscimo de aproximadamente 28%, mais do que todos os índices europeus.
Política fiscal frágil e Superbonus 110
Quando Giorgia Meloni assumiu o governo, no ano de 2022, os economistas inicialmente reagiram com cautela.
Durante a campanha eleitoral, o partido Irmãos da Itália (FdI) havia anunciado um curso nacionalista ao estilo "made in Italy", agindo contra os migrantes sem distanciamento claro da Rússia.
A revista alemã Stern chegou a definir Meloni como "a mulher mais perigosa da Europa".
No entanto, a primeira-ministra manteve a estratégia de seu antecessor Mario Draghi. No mercado de títulos de dívida, isso foi positivo, pois os juros que a Itália paga para tomar dinheiro emprestado se mantêm estáveis desde então.
O milagre econômico italiano está chegando ao fim?
Mauro Congedo não está muito satisfeito com o Superbonus: além da inflação, que aqueceu os preços, a medida estatal também impulsionou muito os custos de material e mão de obra. Afinal, "se o Estado paga tudo, o povo não se importa com o tamanho da conta".
Outro ponto negativo é que não há quem controle os preços: diversas firmas de Nápoles, Bari ou Lecce lhe ofereceram "maquiar" os custos para cima. "Elas queriam que eu fizesse um orçamento duas vezes acima do real. Eu me recusei. É como estar roubando", disse o arquiteto.
Na prática, ele é a favor de um bônus para a modernização energética das construções, porém os proprietários deveriam arcar com parte dos custos, em vez de receber tudo do Estado.
Dessa maneira, apesar de não ser muito favorável à chefe de governo, Congedo considera um mérito ela ter dado fim ao Superbonus 110.
Meloni reduziu no ano passado a 70% o incentivo para saneamento energético, e em 2024, para 65%.
Os cortes tributários do programa original reduzirão as arrecadações italianas nos próximos anos.
Diante disso, são muito bem-vindas as verbas bilionárias que estão fluindo de Bruxelas. A Itália é o país europeu que mais receberá verbas do fundo da União Europeia para reconstrução pós-pandemia: quase 200 bilhões de euros até 2026, na forma de subsídios e empréstimos.
"Até esse ponto, no máximo, o Estado italiano precisa ter reduzido seu enorme déficit orçamentário. Se só aí ele começar a poupar, sem ter aproveitado esses anos para reformas estruturais, provavelmente o milagre econômico também terá fim", adverte Jörg Krämer.